«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 1 de maio de 2012

desAlinhado XXIV

agora que se recolhe a luz
deste dia azedo
e o silêncio abraça o corpo desperto


agora que adormecem os cansativos
seres coloridos
e o vento é companhia única dos ossos que restam


agora que as trevas são
dedos de lã acariciando os olhos
e embalando o sonho


sinto o mármore frio invadir a pele
bebo da chuva que escorre da tua boca
abro as portas sobre o peso dos séculos:
afogam-se as lembranças presentes
o corte eficaz da lâmina na pele esquecida


o sangue que escorre secará por fim
sem que ninguém o ouça

 

2 comentários:

  1. Suas palavras arrasam tufões.
    São fortes, corrosivas, raras.
    beijoss

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  2. Laurinha,
    um tanto de coisas que parecem ter virado poeira a voar, mas ainda assim, deixando marcas no chão.

    Beijinhos e ótimos dias!

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