«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 6 de maio de 2012

balada XIV

enrosco lâmpadas no casquilho
com dedos finos de lã
à espera do fim desta luz negra 


ao dobrar da esquina
prostram-se os sonhos
de joelhos contra o asfalto


[guardam-se duas velas de aniversário
embrulhadas em guardanapos sujos
dentro da carteira


ninguém o dirá
e ninguém virá
e ninguém o saberá]


continuo com o vidro fino
entre os dedos
alguém há-de vir reclamar os ossos sem nome

 

5 comentários:

  1. Laurinha,
    muito intenso.
    Somos e temos aquilo que nos proporcionamos também. Um dobrar de joelhos nos sonhos, e só teremos o atrito do asfalto como resposta.

    Muito lindo!
    Grande beijo!

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  2. Um corpo altamente quebrável no poema, ao mesmo tempo, forte e teso. Seu simbolismo obscuro me cativa, é demais!

    Beijo.

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  3. tantas vezes vim aqui, mas não consegui evidenciar a intensa impressão deste poema em minha pele...

    "ninguém o dirá
    e ninguém virá
    e ninguém o saberá"

    Beijinho com admiração,querida amiga poeta!

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  4. Forte. Mexe com as entranhas.
    Mas, lindo

    bjs

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