enrosco lâmpadas no casquilho
com dedos finos de lã
à espera do fim desta luz negra
ao dobrar da esquina
prostram-se os sonhos
de joelhos contra o asfalto
[guardam-se duas velas de aniversário
embrulhadas em guardanapos sujos
dentro da carteira
ninguém o dirá
e ninguém virá
e ninguém o saberá]
continuo com o vidro fino
entre os dedos
alguém há-de vir reclamar
os ossos sem nome
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Laurinha,
ResponderEliminarmuito intenso.
Somos e temos aquilo que nos proporcionamos também. Um dobrar de joelhos nos sonhos, e só teremos o atrito do asfalto como resposta.
Muito lindo!
Grande beijo!
Um corpo altamente quebrável no poema, ao mesmo tempo, forte e teso. Seu simbolismo obscuro me cativa, é demais!
ResponderEliminarBeijo.
tantas vezes vim aqui, mas não consegui evidenciar a intensa impressão deste poema em minha pele...
ResponderEliminar"ninguém o dirá
e ninguém virá
e ninguém o saberá"
Beijinho com admiração,querida amiga poeta!
Um poema de carne e osso!!!
ResponderEliminarForte. Mexe com as entranhas.
ResponderEliminarMas, lindo
bjs