«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 14 de maio de 2012

bala número quinze

deixei de me importar, de querer saber, de querer compreender.
descuidei-me nas palavras, ocultei gestos desenhados no ar viciado.
cada passada dada afasta-me de mim e sobretudo de ti. os vermes tragados trarão o veneno que procuro, as cócegas das asas no estômago, o ácido corroendo as entranhas.
deixei de me procurar ao espelho, de te ver diante de mim.
cada uma das lâminas tem o seu destino traçado, no chão o mapa programado do sangue em golfadas.
deixei-me de ser. nada.

e cada corte que em mim faço, a ti te destrói

 
Nine Inch Nails: Gave Up (1992)

12 comentários:

  1. Somos todos traídos de alguma forma. Não é preciso dois, nem três, nem mais.
    Um basta.
    Esse seu texto, de certa forma, humilha, ofende, agredi. Raros textos têm esse força, esse valor, essa capacidade vertiginosa de sobrepor às palavras o verdadeiro peso que elas têm.
    Parabéns, Laura.
    Realmente, um texto único!
    Beijoss
    BF

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  2. Gosto da tua escrita e queria comentar-te mais vezes. Mas escreves e publicas tanto que quase me atrevo a pensar que escreves como respiras, ou seja, a escrita está-te nos genes. Felizmente que escreves bem, assim não custa nada acompanhar o teu ritmo. :)

    Beijo :)

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  3. "As lâminas e seus destinos..."

    Belíssimo, querida Laura. Pungente!

    Beijinho!

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  4. Inquietante, Laura!
    Que seja apenas inspiração poética, que não sintas este vazio de nada ser.
    beijinho

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  5. Laurinha,
    nossa que lindo!

    O que está dentro de nós também falece todas vez que (nos) morremos um pouco.

    Beijinhos!

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  6. Olá!
    Quantas vezes já me senti assim,somos parte de tantas coisas intermináveis.
    Grande abraço
    se cuida

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  7. Laura,
    gosto do que escreves embora por vezes fique preocupada. não me parece que sejas do tipo de poeta-fingidor, antes de poetas-em-catarse.
    poema muito profundo e triste. mas se tens a noção de 'e cada corte que em mim faço, a ti te destrói ', é um passo que dás em frente.
    beijo no <3

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  8. Belíssimo, Laura

    Em quantas láminas nos deixaremos cortar?

    beijos

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  9. Por vezes a mágoa abraça-nos, mas é possível reconciliarmo-nos com o espelho...
    Gostei deste desabafo...

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  10. Meu iPad e eu, que escrevo agredi no lugar de agride, estamos à espera de um novo post.
    Quando ele vem?
    Beijoss

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  11. sempre me assombro ao ver pedaços de mim em tua voz!

    Assino de olhos fechados...

    beijinho, Laurinha!

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  12. Gostei do blog e desse post em especial,
    ótima música =) Obrigado por me visitar!

    Abraço

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