«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pedradas XLI

Cobardia

corre o sangue em veias gastas, entupidas
da imundice da terra em que te afogas

sob a pele os músculos apodrecidos, ruidosos
soltam-se dos ossos plásticos

todo o esqueleto de peças partidas, perdidas
escondidas no silêncio dos teus braços

queres respirar?

[não quero que respires,
quero que respires o lodo líquido
no qual te afogas,
quero que não respires]


Man Ray, Yves Tanguy, Joan Miro e Max Morise, Cadavre Exquis, 1928

1 comentário:

  1. o dia mnais aziago hoje pode ser o da libertação e o da renovação amanhã. enquanto a perspectiva não for mediada pelo (necessário) tempo, o cadáver pa(e)recerá sempre mais esquisito do que realmente é.
    abraços!

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