«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pedradas XL

Egoísmo

saem pequenas gotas pelos poros
ficam imóveis sobre a pele seca de sal
numa sintonia perfeita, esféricas

rolam sobre os sulcos dos dias, das noites, das estações
afogam as suplicas silenciosas das noites defeituosas

guardamos em frascos de vidro
os braços imóveis, as mãos arrancadas

amanhã quebramos os dedos, esgaçamos as unhas
e mordemos os corações estragados

Marcantonio, Melancolia 30 – Vertebral Técnica Mista 158×80 cm Rio de Janeiro, 2006
http://cadernosdearte.wordpress.com/

4 comentários:

  1. Ao ler teu poema em alma com Jorge Pimenta
    meu coração pegou fogo agora lendo todos
    os teus caminhos aos céus da Poesia
    meu coração ainda permanece chama
    ...

    Beijo carinhoso.

    ResponderEliminar
  2. Uma verdadeira pedrada! A fúria que retorce no cerne querendo vir à tona!

    Abraços!

    ResponderEliminar
  3. Corações estragados! Deus, que imagem! São eles aqueles em cuja solução conservante não se pôs formol, expostos ao ar, às intempéries? Ou são aqueles guardados in vitro nos tórax impermeáveis, decompondo-se por dentro (como os frutos)pelo bombear de um sangue ácido, corrosivo? Ou aço diluído.

    Ninguém sai indiferente ao expor a alma ao aguilhão estético-filosófico da sua poesia, Laura.

    Beijo.

    ResponderEliminar
  4. reparei, já, que na tua estética o advérbio "amanhã" ganha especial preponderância, amiga. nenhuns, como os de tempo, modelizam os sentidos da (in)acção. façamos dele uma outra cambiante: o hoje.
    abraços mil!

    ResponderEliminar