«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Manifestos LXXXII

Poeta

quer o poeta nuvens de sonho, altas no céu de azul
enquanto arrasta os pés no lodo dos dias,
busca os cêntimos na fenda do tempo
que passa sem piedade nas rugas do peito

bebe o poeta a água de chuva, caindo das caleiras rotas
afoga os dedos em promessas de vento
os cabelos embranquecem, a carne separa-se dos ossos
e bebe a água da chuva a alma do poeta


Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/

3 comentários:

  1. por isso, na tradição literária, o poeta é de tudo um pouco: fingidor, maior do que os homens, garimpeiro, ceifeira, artífice, caminhante, génio... mas sobretudo um louco que sorri, com os olhos esbugalhados, enquanto crê que o sonho que planta um dia possa germinar. e os milagres existem (ainda que só em poesia).
    beijos, laura-amiga!

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  2. está chovendo
    (desde cedo)
    o dia todo
    chovendo
    ...

    são tantas almas
    para um dia todo
    assim, chovendo
    ...


    beijo carinhoso.

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  3. assino o que disse o Jorge, e a tua lira entontece


    beijo

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