«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Manifesto XCVI

Estações

se tenho as tuas mãos
desenhadas no meu peito,
a culpa não é minha

[carrego todos os dias
o feno sobre os ombros, é Inverno]

se trago no olhar
as paisagens que bebeste,
a culpa não é minha

[busco a fonte
onde a água me afogará, é Verão]

se ouço a tua voz
silenciosa, sussurrar-me ao ouvido,
a culpa não é minha

[perdi as amoras
que outrora beijei, é Outono]

se tenho o teu corpo
colado no meu,
a culpa não é minha

[esqueci que o tempo,
o tempo passou e é Primavera]

1 comentário:

  1. recorda que, apesar de tudo, o único "se" que não existe é o que comanda cada uma das estações. e de novo, elas voltam. já nós? talvez sim... ou não.
    beijos, amiga!

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