«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Manifesto LXXXVII


Jorge Molder

Adeus

não te sinto dentro de mim
ficaram entranhas despedaçadas, aquando
da tua passagem em fumo,
o sangue coagulou, em poças, aos meus pés

[e eu quero afogar me nele]

não respiro o teu corpo
arrancaram-se pedaços de pele, enquanto
falavas de infinitos granitos,
os olhos esvaziaram-se, em mágoa, à minha volta

[e eu quero ver esta cegueira]

não sinto os teus pés
perderam-se nos trilhos, onde
desde sempre estiveste
o peito guarda ramos secos, partidos

[e eu saio a correr]

1 comentário: