«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Maria

Maria seguia timidamente pela estrada,
Decidida no caminho a percorrer,
Indecisa no final que a aguardava.

Seguia Maria confiante pela berma,
Protegendo o rosto do frio cortante,
Abrigando a espalda com o manto negro.

Maria seguia, sem forças, pelos trilhos,
Esqueleto vergado ao peso dos anos,
Pés gastos nos atalhos da existência.

Seguia Maria, derrotada pelos séculos,
Olhos turvos de água
Cegos ao presente que a encara.

Segui Maria, entre as sendas do tempo,
Enquanto Maria seguia agora, arrastando o seu cadáver.

3 comentários:

  1. volto sempre ao seu blog, laura, um dos meus cantinhos favoritos.
    abraço grande do
    roberto.

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  2. As mil e uma faces do viandante (do poeta) na sua caminhada espúria pelo Tempo. Quantas vezes nos desenhamos sombras de luz esquecida ou cadáveres de seres outrora perfeitos e intocáveis?

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  3. Ao Jorge, ao Roberto, a todos que seguem este blog, deixo ficar o meu sincero obrigada. Voces dão-me a força para continuar a escrever!
    Muito obrigada!

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