«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 25 de novembro de 2012

Balada XXII


sem mais delongas
é chegada a hora de me despedir
amigo que te sentas comigo
nesta mesa esquecida num canto qualquer

esvaziamos as garrafas
enchemos os copos
fumamos todos os cigarros
medimos o tempo
olhando pela lupa
enquanto riscávamos os dias em dobras na pele

lá fora a noite
lá fora o dia
em nós as trevas
encerradas no peito húmido
saturadas de ar bafiento
lá fora o dia
lá fora a noite
em nós o vazio
que cresce dentro dos ossos
e queima o que resta das entranhas

há muito que fomos
há muito que esquecemos o que somos
esqueletos sorridentes, histórias de assombrar

despeço-me de ti, querido amigo
sem mais delongas
tu que há muito não te sentas à minha mesa
que há muito me ensinaste o sabor amargo da partida

e que sei eu ainda
amanhã alguém me virá buscar
mas muito antes de o caixão sair do umbral da porta
talvez tudo arda num ápice, talvez as paredes restem em pé

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/


8 comentários:

  1. na verticalidade da vida permanecem as histórias...
    tão sofrida e intensa sua poesia, Laura.

    beijoss

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  2. depois do adeus
    o que ainda sabemos nós
    é que mantem as paredes de pé

    pelo poema
    abs

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  3. Laurinha!
    E como gosto da tua poesia... impossível é não vir aqui!
    Beijos com saudades!

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  4. despedir é um verbo de difícil conjugação: é só um tempo de ausência,

    beijo

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  5. parei com o teu poema a ecoar uma música de fundo...
    muito belo, querida Laura!

    beijinho!

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  6. a morte deve ser mt mais triste pra quem morre
    bj grande

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  7. geralmente as outras sensações nos invadem... mas sabor e toque, não! por estes a gente deve buscar e pode escolher... engraçado que são esses os que mais a gente anseia!

    beijo, querida!

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