a mesma rua
estreita de sempre
paralelos
gastos, imundos
passeios longos
onde pessoas não se cruzam
[para
qualquer assunto ligue…]
mães
indesejadas de cabelos platinados
fumam cigarros
sem marca
enquanto os
filhos adormecem nos carros empurrados pelos pais, possíveis
[trespassa-se
para o mesmo ou para outro ramo]
pele escurecida
pelo amargo do tempo
barrigas flácidas
exibindo estrias
pinturas
foleiras sobre rostos pesados, sorrisos escancarados
[aqui podia
morar uma família]
número 264,
ou outro número qualquer
procuro o
meu reflexo num qualquer olhar parado
já nem sei
de cor o meu numero, o meu tipo sanguíneo
[barreira
de tijolos em umbrais sem porta
sujidade,
teias de aranha, as marcas de que o tempo escorre para todos]
já fui um
esboço a carvão no teu bloco de desenhos
casas
escuras, varandas em queda abrupta
vasos de
terra queimada, ervas torcidas ressequidas
[para
qualquer assunto dirija-se ao número…]
rua mártires
da liberdade
aposentados
sem carne nos braços, pele pálida desgarrada dos ossos
tronco
oculto por velhas camisolas brancas onde o sujo é cor
e eu já fui
um nome, um suspiro preso na tua boca
rua mártires
da liberdade, os mártires aqui somos nós
o calor
infernal é substituído por uma aragem marítima
e eu já fui
a pedra da tua escultura
lâminas
frias oriundas de longe
264 ou
outro número qualquer, esqueci-me
lendo e imaginando uma cena de filme noir...
ResponderEliminarbeijinho, amiga de voz intensa!
Uau, Laura! Vc tem esse dom de me prender no seu poema, de fazê-lo pintura, filme, diante dos meus olhos. Visualizei cada cena, cada marca do passado nas pessoas, nas coisas.
ResponderEliminarBeijo.
Olá, Laura
ResponderEliminarum desAlinhado que cutuca
o tempo, as pessoas dos dias
as ruas, os lugares
pensei nas indiferenças, nos comprometimentos,nas lutas, no ar sufocado preso na garganta temendo ou buscando no grito uma saída
muito, muito tocante
beijo grande, querida Laura
quantos lugares e deslugares...
ResponderEliminartrespasso-me.
beijo, amiga de olhar de condor!
Cotidiano noturno, ainda que seja dia, assim é tua voz em mim.
ResponderEliminar(aqui mora o mundo)
Bj, poeta
Passam muitos desalinhados, à procura de uma rua, de um número...
ResponderEliminarUm texto muito intenso sobre a solidão anónima, que passa numa rua qualquer, ou na nossa...!
Beijos
Laurinha,
ResponderEliminarum desalinhamento de linhas alinhadas...
desalinhei-me. Que bom!
Beijos e ótimo fim de semana!
Belo texto,belo blog!
ResponderEliminarMe faz uma visita?http://mardeletras2010.blogspot.com.br/2012/06/desperta-tu-que-dormes.html
somos tanto, quando nos entregamos aos outros - às coisas e fazemos de conta ser algo mais
ResponderEliminarbeijos
Laura
ResponderEliminarEm quantos becos e viadutos mal cuidados soarão gritos sufocados querendo fugir para encontrar a rua verdade?
Profundo.Verdade.
Um lindo domingo
bjs
somos nomes, somos números? Somos gente que sente, mesmo na escuridão da vida.
ResponderEliminarBeijooooo
desAlinhado XXIX.
ResponderEliminar:)
"e eu já fui um nome, um suspiro preso na tua boca"
ResponderEliminarhá lugares que não se esquecem...
beijinho, querida Laura!
- seja no número, no esboço de carvão e tinta ou no segundo do pensamento, não é possível esquecer. acomodar a idéia pode dar o sentido do esquecimento, porém sempre que estamos sucetíveis às situações que revelam a memória, o sentimento que anteriormente tínhamos pela pessoa/situação ressoa, mais rápido que uma bala certeira.
ResponderEliminargrande abraço.
Caramba, Laura, quase te sinto usar o bisturi. Que dissecação!
ResponderEliminar(Tens talento, mulher)
beijo :)
Neste poema, conseguiste ser desconcertante e surpreendes a cada dobrar de verso.
ResponderEliminarMagnífico, gostei imenso.
Beijo, querida amiga.