Deixei de amarrotar as folhas de
papel em bolas de aguçadas pontas. Lentamente foram despovoando o soalho de madeira,
dando lugar ao pó, um pó fino e cinzento, como testemunho do tempo vagaroso.
Ainda ouvi os seus ecos durante
as noites, abafados pelo negro do ar. Distinguia, nitidamente, os ruídos
estridentes da sua morte nas primeiras horas da manhã.
Vieram as chuvas, a estação do
frio. Veio o vento seco, a estação do calor. E chegaram finalmente os incêndios,
agora resto eu: cinza, só.
Fotografia de Laura Alberto
[como se o tempo tomasse do corpo,
ResponderEliminaro eixo dum compasso,
o despojo dum só traço.]
Leonardo B.
Há que ser uma Fênix!, para retornar dessa forma tão brilhante!
ResponderEliminarum beijo :)
Para simplificar, direi que todos somos cinza.
ResponderEliminarÉ tudo uma questão de tempo, para os mais cépticos (ou optimistas, já nem sei).
Continuo a gostar dos teus textos, embora sonbrios...
Beijos, querida amiga.
PS: ainda não conseguiste retirar as letrinhas de verificação... irritam-me...
«Lembra-te que és pó e ao pó hás- de voltar».
ResponderEliminarMuito bom!
Beijo grande
( quanto às letrinhas...eu também tenho o chrome e o novo perfil do blogger e vou às definições de mensagens e comentários e coloco Não, quando volto lá já está no sim apesar de guardar as alterações :S
Fico sem saber se também no meu aparecem as boas das letrinhas....
Querem-nos robotizar à força :)))
Laurinha, querida!
ResponderEliminarSe tu seguires essa série Purgatorium até o número 10.000.000... serei uma leitora grata!
Tamanha a intensidade e franqueza que consegues aqui. Fico envolta em palavras que me acendem um "algo" na literatura. E gosto muito! Difícil sentir-se cinza com teus textos, mas fácil sentir-se lenha ardendo. (e isso foi um elogio)
Beijos e ótima semana!
Ah! Já ia me esquecendo...
ResponderEliminarpercebi que ótimas fotos não são só privilégio do Jorge Pimenta. Esta tua está maravilhosa!
Vocês dois têm um olhar sobre as coisas... magnífico.
Beijinhos!
Laura Alberto!
ResponderEliminarAmo seus escritos que soam como mágico instante para mim. Antigamente era assim que eu eswcrevia, até que me chamaram a atenção, e eu boba, parei.
"E chegaram finalmente os incêndios, agora resto eu: cinza, só."
LINDO DEMAIS. Chega a doer.
Beijos
Mirze
o crepitar de intensos incêndios formam sempre mistérios desenhos no ar...
ResponderEliminarbeijinho, querida Laura!
Não sei se foi discípula de Jorge. Ambos escrevem de maneira espantosamente singular que me encantam.
ResponderEliminarQue renasçam as folhas de papel com as bolas sem pontas.
Beijos.
amarrotar folhas de papel... no seu combate contra as cinzas (ainda que de demónios diferentes dos do sujeito lírico dos teus versos), mulder (recordas-te dele?...) afiava pontas de lápis que projetava contra um teto de cortiça. horas a fio, enquanto tudo passava, tudo menos o seu olhar que ali se depunha em silêncio.
ResponderEliminarbeijinho!
p.s. esta tua foto está soberba! adoro a profundidade deste chão que parece abrir-se em espelho de água diante dos olhos.
- só me resta levantar e aplaudir.
ResponderEliminarclap, clap, clap, clap...