«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 21 de março de 2012

purgatorium XII


O meu corpo minga debaixo da roupa, criando foles no pano desbotado e gasto. Desapareço no corpo que se arrasta, debaixo da pele seca e áspera, entre músculo e carne cansados.
Às tantas a minha morte pertence ao passado, inscrita nos anais malditos. No instante preciso, precioso, em que os relógios pararam de medo ante gritos estridentes de demónios contorcidos.
Afinal não serei eu uma carcaça condenada ao tempo líquido que se espalha, à procura de uns lábios que se beijem?
E as perguntas fazem-se, sem eco de resposta: a vida sangrada, amaldiçoada. [por mim]
Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/

4 comentários:

  1. denso - folhagens
    que caem no outono
    ...


    beijo carinhoso.

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  2. Forte como a vida e belo como a morte!

    Querida Laura, adoro o que escreve.
    Parece que já nos conhecíamos de outros mundos.

    Beijos

    Mirze

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  3. ... a busca incessante pelo nada, onde o muito pouco jé é pleno.

    Beijos, Laurinha querida!

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  4. trago os bolsos vazios e as mãos cheias... dessa massa se fazem aqueles que não se cansam de procurar.

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