Fotografia de Laura Alberto
Um dia deixei de comprar o
jornal. Assim economizaria uns trocados, deixaria de sujar as mãos, e também
não me iria tornar numa vendedora de castanhas. Por isso, o jornal era
perfeitamente dispensável.
As notícias deixaram de me
interessar, de nada e em nada me afectavam. Não que vá cair na frase feita de
que, são noticias de ontem, apenas tinham deixado de ser importantes nos meus
longos dias, que se iam estendendo pela breve eternidade que me restava,
dolorosa na minha mente.
Ainda li folhas esquecidas ao
acaso pelas ruas da cidade, enquanto esperava pelo autocarro. Ainda fiz o papel
de parasita, ao ler as notícias que o passageiro do banco da frente me oferecia
involuntariamente.
Depois?, depois desisti. Desisti
do mundo, de todos.
E no fundo desisti de mim.
Eu? Desconheço-me.
Esse conflito é de cada um que reflete sobre a sociedade.
ResponderEliminarF. Otávio M. Silva
http://www.surfistadebanzeiro.com
o verdadeiro jornal não é o que suja as mãos ou o que fala da vida; é as mãos e a vida que constroem, assim simples, por vezes sem cor, mas nossa e única, a que não sabe que existe, sequer, o verbo "desistir".
ResponderEliminarbeijo-te as mãos, laura!
p.s. o jornal o despertar sei que não deixaste de ler :)
Pessoa não se dizia um conhecedor de si, mesmo assim ainda foi quem foi.
ResponderEliminarEu gosto de jornais, dos papéis, das notícias envelhecendo mais rápido que as palavras, as palavras que nos traduzem os conflitos, as oscilações de humor, de sabor, de dor e até de amor.
ResponderEliminarInteressante o seu texto. Inquietante. Vai direto ao ponto, no ponto dos conflitos e das ambivalências que a gente tem. E como tem!