«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 8 de março de 2012

purgatorium VII

Sonhei hoje que morria, mas não acordei. De verdade. O que me despertou do meu sono foi uma tosse violenta oriunda do centro do corpo.
Uma sensação de lâminas frias navegando na corrente sanguínea, que na sua passagem por veias e artérias [que sei eu de corpo humano?] as cortavam. Como se todo o meu sangue fosse fugir de mim, numa explosão pela boca.
Depois uma dor aguda sobre o peito, o estilhaçar das costelas, apenas visível pela deformação da pele. E o ar parecia que nunca tinha existido no quarto.
O barulho da tosse. O anunciar de uma qualquer doença fatal.
Não acordei quando sonhei que morria. Sempre estive preparada para morrer. O que eu não estou é preparada para viver.

Fotografia de Pedro Polónio,  http://club-silencio.blogspot.com/

5 comentários:

  1. Laurinha,
    a vida às vezes é uma morte lenta e inconsciente.
    Lindo, lindo!
    E que foto, heim?

    Aproveitando:
    Feliz dia das mulheres, para nós todas, verdade?

    Beijos!

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  2. Tenho uma adorável incompetência pra viver, no entanto, sempre atiro-me.
    Bj grande, Laura

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  3. todos os tecidos se fazem matéria que morre... mas antes disso, vive.

    abraço, laura!

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  4. Pode-se conhecer os sintomas e até presumir-se o reconhecimento da morte. Da vida, no entanto, só se sabe que deve continuar, sem mapas ou traçados pre-definidos.
    Bjs.

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  5. Sorvendo a sequencia e adorando...

    Beijo, querida Laura.

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