«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Manifesto LXXX

Quando eu morrer, se morrer

quando eu morrer, se morrer
não chorem por mim, se chorarem
conto vos a história do futuro:

a terra é sempre húmida e não se vêem os vermes
as tábuas apodrecem ao esquecimento
a carne seca sobre os ossos, sem odor
os ossos quebram perante o olhar dos vivos, quando quebrarem
fica o cabelo, uma coifa imunda
saem os dentes sobre os lábios que se rasgam, desaparecem
pintam-se os olhos de chumbo

quando eu morrer, se morrer
não chorem por mim, se chorarem
lembro vos a história do presente:

[tudo de tudo, de todos, dos outros, de mim de ti, de ti em mim, sem mim, sem ti, tudo de nada de tudo, sem tudo, com nada]

quando eu morrer, se morrer
se chorarem, não chorem por mim

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