«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"O coração é um vasto cemitério"-Heiner Muller

XIII
o que será que ela fazia? [Dou corda ao relógio, senão ele pára.] era chegada a hora de dormir, a sesta da tarde, no quarto virado para o largo. no outro quarto, voltado para o quintal, de manhã, era hora de ir para o quente dos lençóis, quando chegava da minha outra noite. [Prometes que não me deixas aqui sozinha?] fechar os olhos e resistir: ao sono, ao cansaço, à obrigação. deixar ir: dormir, sonhar a dormir, acordar, tarde sem horas. [Tinha que vir trabalhar, mas sei que ficaste bem.] silêncio: o barulho pesado do engenho do velho despertador. Trim. e agora, quem vai dar corda?

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