«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 11 de novembro de 2012

esventrado XXIII

não ouço os meus pesados passos
sobre o chão

não sinto o peso do casaco
pendendo sobre os ombros

não vejo o meu reflexo cansado
no nevoeiro cinzento

e um manto de folhas amarelecidas
raspa o alcatrão
e um vaso com flores de plástico
é esquecido sobre o mármore imundo

cansaste-te de ler o meu o nome
deixaste-o preso em letras de bronze

10 comentários:

  1. de mim já nem se lembra é o nome de um livro e o nome de muitos de nós.

    beijoss

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  2. quando tudo é esquecimento, para que serve o metal?
    Bj, poetaça dos arrepios

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  3. ler um nome, fábula que se inscreve na pele


    beijo

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  4. Cinco letras…
    Cinco pontas de cadente perdida na aurora
    Na loucura de alguns instantes escrevo
    Descalço vou adiante num ir longe, embora

    Solto das mãos murmúrios sussurrantes
    Do basalto explode um bando de pombos bravos, alguns negros
    Há um livro branco apenas com a palavra ausência
    Há uma carta de marear para um rumo de mil segredos

    Flores de solidão crescem em pedaços de fria lava
    Um espantalho saltou-me do bolso a remexer
    Uma sombra desceu a janela e tocou-me
    Cerrei olhos para sentir o que não queria ver

    Boa semana

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  5. laura,
    sua poesia caminhou muito, viu?
    muito.

    eu aplaudo.

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  6. Cansada em noite e nevoeiro,
    em letras de bronze te escrevi.
    É incansável teu nome, tal qual
    estas flores de plástico.
    Incansável!

    beijo

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  7. Confesso a minha dificuldade de interpretar o teu poema.
    Mas provavelmente fazes de propósito para que as mentes dos leitores deambulem pelos significados (im)possíveis...
    Ou então sou eu que não vejo...
    Será um abandono? Do narrador e do visado que deixou o nome preso nas letras de bronze?
    Beijo, querida amiga.

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  8. Por vezes venho cá e não deixo comentário, mas é porque não sei mais que dizer. Porque ler-te deixa-nos a alma em silêncio...

    Obrigada, beijos

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  9. Laurinha, tudo bem?
    Ainda em off no blog, mas me atualizando nas leituras essenciais, como tuas poesias. Não comentarei, necessariamente, mas sempre por aqui, tá bom?
    Beijos muitos, com saudades, muuuitas!!!

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  10. tudo se resume em perdas...

    tua lira me impregna de mim!

    beijo!

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