caminho sobre a noite
não a que já caiu sobre a cidade
mas a que a mim me assola
o frio instalou-se no espaço entre as costelas
entre a carne e os ossos
não agora, mas há muito tempo
restam-me
um rio poluído que desagua sem saber
as luzes de néon rosa de uma pensão
faróis amarelos de automóveis com rostos de estranhos
as vozes que vou calando em mim
procuro o mar que me inunda o olhar
alargo o nervo que me consome o corpo gasto
talvez amanheça em mim
outra vida, outra cidade, outro ser
que não se me consuma no peito
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Leio-te como a um eco de minha própria voz. Talvez em mim amanheça um dia.
ResponderEliminarBeijos,
espero que te despertem cada vez mais poemas Laura, que te nasçam para eu poder desfrutá-los da fonte que nos presenteia
ResponderEliminarbeijos
talvez... enquanto isso, escrever o talvez!!
ResponderEliminarbeijo, poeta linda!!
essa inquietação sem fim da condição de ser afetiva e sensível e de estar sempre um pouco acima ou abaixo do chão não é fardo fácil de carregar, ainda que seja tão intenso e belo na poesia...
ResponderEliminarbeijoss
BF
na primeira aparição da luz, ainda nada se sabe sobre a cidade que abriga ossos, carne e espírito, talvez, ao longo do dia, ela se mate e nos alivie um pouco.
ResponderEliminarbj, poeta-espelho
São mudas as neblinas nesta ilha
ResponderEliminarÉ de pobreza o pão que alimenta o meu sentir
Oiço o mar com os meus próprios dedos
Parti do desencontro dos meus derradeiros medos
Parti e deixei no cais mil dúvidas
Lembrei tempos que corri feliz pelas amoras
Nesses dias bebi sofregamente a vida
Nesses dias a minha alegria era incontida
Uma radiosa semana
Doce beijo
Grande , grande Raquel!
ResponderEliminarADOREI.
Beijo
ah o peito, o peito, quem dera não ser, quem dera: o dia que que tudo será outro
ResponderEliminarbeijo
Pesado é o fardo da noite que se nos assola. E a poesia, ah, a poesia parece torná-lo belo, mas sente-o tão intensamente que o torna mais pesado!!!
ResponderEliminarbeijos
Esse frio que nenhum fogo aquece...
ResponderEliminarComo sempre, gostei!
Beijos
Adoro textos sinestésicos que nos levam a sensações que só percebemos quando são ditas: "o mar que inunda o olhar". E ao mesmo tempo há de se ter uma sensibilidada aflorada para conseguir alcançar tais descrições. E você consegue muito bem! E mais uma vez obrigada pela dica musical. Adorei o som do Ataxia.
ResponderEliminarBjos