«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 30 de outubro de 2012

purgatorium XXXVIII

Escrevo.
Escrevo porque nada mais me resta no frio da noite solitária.
Escrevo, antes que a minha carne seja pó, antes que a pele se suma.
Escrevo, pois nada mais tenho a fazer do que esperar, do que ter coragem.
Escrevo e a lâmina repousa na mesa diante de mim, inerte, ameaçadora.
E enquanto escrevo esqueço-me de mim, deixo que a pele entre na carne, a carne desapareça nos ossos e os ossos se partam nas mãos de um desconhecido.
Não acendam velas, queimem apenas aquilo que eu escrevo.

Foto de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/

13 comentários:

  1. O bom é queimar-se nos escritos alheios e depois acender a própria fogueira do que precisa ser escrito.

    Adorei!

    Beijo.

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  2. O que escreves queima. Queimando, a poesia arde na pele e procria filhos em chama.
    beijos,

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  3. escreve porque queimam-me as cinzas de tantas palavras,


    beijo

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  4. eu teria de ser louca, ou mais do que sou, para discordar uma linha que fosse desse escrevo.
    escrevo pelas mesmas razões em tirar nem por.

    beijoss

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  5. escrevo para não me esquecer de mim.

    beijos!

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  6. do lado de cá, nos dedos atrofiados, há também alguns desconhecidos famigerados.
    bjs poetaça

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  7. Pode-se queimar, mas as cinzas se espalharão e as palavras serão respiradas e aspiradas para que novas escritas possam inspirar.

    Bjos soprados ao vento!

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  8. Tudo o que escreves não será destruída completamente.
    Nenhuma vela há de apagar tudo porque algumas cinzas ficarão na memória.

    Bjs.

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  9. - deixem que queimem, pois a essência do que dizes não está na tinta, nem na carne que carregas.

    grande abraço.

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