«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 30 de abril de 2012

purgatorium

XXIII

Hoje não me apetece escrever. Talvez porque acordei com frio e adormeci com frio. Passei a noite com os joelhos colados ao peito, mas o frio esteve sempre lá, como um sopro constante no ouvido.
Provavelmente nem dormi, tenho todos os segundos, todos os minutos, todas as horas gravadas na pele. Possivelmente ainda estou a dormir.
Como posso eu estar a dormir? Se no único espelho da casa o reflexo junta partes do meu corpo. Um puzzle a que vou tentando dar um significado.
Ainda devo estar a dormir, não acordei e a noite impera lá fora. Bom dia, daqui a nada, com dores nos ossos e uma tosse sufocante.

 

8 comentários:

  1. ter o tempo gravado na pele e todas as possibilidades de reeditá-lo no ritmo de nossa pulsação... que bom seria, hein, Laurinha!?

    beijinho carinhoso, minha amiga poeta!

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  2. é como se fosse uma eternidade a consumir-se, um quadro roto a desmontar-se



    beijo

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  3. não me canso de te ler, mesmo quando não te apetece escrever :-)
    beijos!

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  4. Então se te apetecesse escrever, a noite não seria mais um purgatório.Quem sabe o céu?

    Magníficos vídeo e texto

    Bjs

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  5. Laurinha,
    às vezes temos que nos conceber em fragmentos para nos fazer em inteiros.
    Beijos!

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  6. - concordo com a Cecilia: nas partes está o todo.
    Quando não buscamos compreender o que somos de verdade - e ignoramos juntar o nosso eu - o íntimo grita, na tentativa de se fazer ouvir.

    grande abraço.

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  7. Eis a roda viva!

    " Tem dias que a gente se sente
    Como quem partiu ou morreu
    A gente estancou de repente
    Ou foi o mundo então que cresceu... "

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  8. Sono que não traz descanso... há noites (e dias) assim...

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