«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 25 de abril de 2012

purgatorium


XXII
O primeiro passo: voltar atrás.
Um frio que nasce de dentro, nas paredes do estômago, sobe pelo esófago. Um grito surdo numa boca escancarada.
O segundo passo: ficar parada.
Um tremor que percorre as pernas, percorre o peito, assoma a mente. Uma lágrima que cai em terra de ninguém. A boca aberta cospe sangue: o ruído surdo da espessa pasta atingindo a terra.
O terceiro passo: continuar.
E continuar o quê? Todos os sopros quedam-se nos campos. Todos os vendáveis findam-se na terra. Todas as cidades esqueceram o meu nome.
Aqui. Cavar. Cavar e cavar. O último passo: para um lado qualquer que não este.

Fotografia LauraAlberto

5 comentários:

  1. o lado de dentro já é todo reverso...

    beijinho carinhoso, amiga poeta!

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  2. Laurinha,
    voltar atrás, parar, continuar...; ou, continuar, parar, voltar atrás...
    quase um desejo pela catalepsia, é o próprio purgatorium.

    Foto instigante!

    Beijinhos e ótimos dias!

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  3. Para voltar atrás é preciso mais que memória. É preciso ter acumulado sabedoria.
    beijoss :)

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  4. - ao meu ver continuar será sempre a melhor opção...
    mesmo que os sopros quedem-se nos campos. mesmo que os vendáveis findem-se na terra. mesmo que todos esqueçam o nosso nome.
    não importa a direção, não importa o lado, se houver um objetivo,

    grande abraço.

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  5. o régio, com o seu cântico negro, continua a ser candeia que alumia todos os pontos cardeais.

    beijinho!

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