«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 19 de julho de 2011

Polaroid 43

nocturno

receio que a manhã acorde e a escuridão seja o manto que cobre a terra
uma luz negra desenhando o contorno das arvores, das fragas, dos desfiladeiros
e no ar pó, pó e mais pó

toda a vida apagada por um denso nevoeiro,
espesso, como o sangue coagulado nos moribundos

todo o calor bebido pelas entranhas da terra
sofregamente até se tornar uma memória, distante e esquecida

temo que a manhã invada os olhos errantes
com a sua escuridão, fria e negra escuridão
um dedo pousado sobre os lábios. silêncio

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Belíssimo nocturno.
    Gostei muito.
    Tal como gostei dos teus crimes amporosos.
    Tens muito talento, não me canso de o dizer...
    Um beijo, querida amiga.

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