«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 19 de julho de 2011

crimes amorosos

V
anoitece:
a luz abandona as formas perfeitas entregues ao silêncio
a penumbra desenha estátuas imóveis de mármore branco, de olhos arregalados como misteriosos seres deformados pela ausência de luz

anoitece:
o vento pára, a terra pára, o tempo pára
arrastam-se os corpos vivos, todos adormecem, fingem dormir enquanto agasalham a carne com promessas impossíveis

anoitece:
é hora, é esta a hora
lá fora, a noite, o silêncio, o negro
chamam-nos

1 comentário:

  1. Esses Crimes Amorosos estão qualquer coisa... Ótimos! Desde o título da série, desconcertante, antitético.

    Beijo, Laura.

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