«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tendinites VI

estou à tua espera, neste pedaço de tempo
entre os cinzentos do teu olhar
fecho os olhos
as mãos imóveis acariciam a tua pele

o desejo força-me a vencer o sono
e as nuvens tomam forma
e os dedos ganham vida
e estás onde te não vejo

abraço o teu corpo cansado
displicente sobre a cama
entre os fios de luz baça
que violam a escuridão do quarto

porque te vejo a olhares-me assim
quando é a tua ausência que nos preenche
falamos algumas vezes, lançamos o riso pelo mundo
e regressamos cada um ao seu lugar vazio

o remoinho perpétuo deita-me sobre as casas
e em pedaços escorro pelas traves
a porta, se estiver, deixa-a aberta

Laura Alberto / João Miguel Ferreira



Paula Rêgo

3 comentários:

  1. como as palavras fluem...
    belíssimo
    parabéns a ambos!

    Beijos Laura

    p.s. em cada frase encontrei-me por momentos sem me perceber...

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  2. boa a pareceria. :)
    "o remoinho perpétuo deita-me sobre as casas
    e em pedaços escorro pelas traves
    a porta, se estiver, deixa-a aberta" (!)
    Beijo

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  3. a imagem da casa aproxima todos os fantasmas da cal. a inquietação não se esgota na porta talvez-aberta, quem-sabe-fechada; estende-se para além da tela onde paula rego exorciza os seus fantasmas.
    bravo, poetas!

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