«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Balas

Bala

atribuíram um número, o mesmo, as fotocópias do meu bilhete de identidade, do número informativo fiscal, da carta condução. um número, impresso violentamente a negro no verso da folha. um clipe ferrugento, abraçou as folhas que se amontoaram numa gaveta de papeis.
sou mais um número, naquela gaveta de papeis, silenciado por outros tantos papeis e tantos outros números negros.
sou um número, não sei de quantos dígitos, esquecido entre papeis e mais papeis. quando o sangue gelar, a carne minguar sobre a pele, o músculo desprender o osso, sou na mesma esse número, que será descontinuado.
aos olhos do numerador, sou um número, só: uma combinação aleatória de dígitos.
e os cães esquecidos lambem as poças de água seca, na berma

Sem comentários:

Enviar um comentário