«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 15 de maio de 2011

Bala número três

fumei todos os cigarros: um após um após outro após um. todos os cigarros até que a pele esfolou, colada na pedra do isqueiro e os dedos se tornaram galhos tortos amarelados.
fumei todos os cigarros sentada, passaram os dias, longos, compridos entre as horas da noite, as horas do dia, o frio da sala foi cortado por raios de luz, tímidos de inicio, decididos no final, até ao calor descer pelo tecto, para ser de novo frio
fumei todos os cigarros enquanto castelos de fumo se construíam e destruíam perante os olhos noctívagos
fumei todos os cigarro
e lá fora o giz desenha no asfalto quente a tua face

1 comentário:

  1. «e lá fora o giz desenha no asfalto quente a tua face»
    Wow!... Escrita intensa, forte!... Gosto!
    Beijos!

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