«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 3 de maio de 2011

Polaroid 34

Manequim

o sorriso dilui-se no tempo
entre todas as horas que iluminaram
os olhos mortiços
entre todas as horas que cegaram
os ouvidos surdos

ninguém disse que os cadáveres ficam sempre nos armários
escondem-se em silêncio, gelados
arreganham os dentes quando as portas se abrem
e assustam aqueles que deles se esqueceram

e nós:
dormimos com os olhos abertos
caminhamos com as luzes apagadas
esperamos com os braços cruzados sobre o peito

é:
as cores caem
pelos caminhos de terra
entre as memórias baças, distantes
[o coração guarda-se no frigorifico]

1 comentário:

  1. "e nós:
    dormimos com os olhos abertos
    caminhamos com as luzes apagadas
    esperamos com os braços cruzados sobre o peito"

    laura, estes versos são de uma majestade lírica; poema impressionante.
    beijinho!

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