«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 17 de maio de 2011

"O coração é um vasto cemitério"-Heiner Muller

XXXIV
a navalha repousa no balcão, romba, cansada da pele seca que a cobre. o pó cobriu-a ao longo dos dias que correram, que ficaram quedos nos raios de luz entre frinchas da madeira.
até os ratos desistiram de procurar a carne
até as aranhas se cansaram das suas teias
até as moscas secaram entre o cotão das roupas
até as centopeias rastejaram sobre a luz do dia
a navalha espera, a ferrugem apanhou-a

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/


2 comentários:

  1. rasgante este, navalhas me lembram o Cão Andaluz,


    beijo

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  2. Excelente! Gosto muito da sua força poética.

    Beijo.

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