«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Polaroid 31

O rochedo


sentei-me num rochedo e o mar tão baixo
a espuma ficava prisioneira nas fragas
e desaparecia deixando ficar manchas amareladas

[qual o dia do ano? não sei
estaria frio? estaria calor? não sei]

pequenas gotas de mar salpicavam-me o rosto
enquanto pequenos caranguejos eram levados
para serem de novo trazidos, perdidos entre as ondas

[qual o ano? não sei
quantos anos teria? não sei]

ao fundo, o som melancólico do farol
rompia o nevoeiro que cercava o pontão
de vez a luz tinha sumido perante os meus olhos

sei que quando o meu pé
tocar, esse mar que nos separa
é chegada a hora

Fotografia de Gerard Castello-Lopes

3 comentários:

  1. " som melancólico do farol
    rompia o nevoeiro que cercava o pontão
    de vez a luz tinha sumido perante os meus olhos

    "
    quanta ternura no poema que me tomou em solidão

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  2. há voz no mar, mesmo quando adormecido. pobre velho tonto, já perdeu a memória e hoje é apenas um olhar vazio sobre os baixios que nem os caranguejos ousam servir.
    beijinho salgado!

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  3. Presos ao mar, ficamos na praia e somos levados pelas ondas... Deixamo-nos ir sem saber se a corrente que nos toma é melhor que a corrente que nos prende à terra...

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