«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pedradas LIX

Fastio

bocejo:
mergulho a colher baça no café
que pinta a parede da chávena cansada,
os olhos humedecem-se de tédio

bocejo:
a colher viola a espuma,
num gesto mecânico agito a água tingida
a espuma abre-se, fecha-se e abre-se de novo
numa espiral mesclam-se a espuma e o café

bocejo:
são braços que se abrem, são braços que abraçam
são mãos que se fecham, são mãos que largam
são lábios que se abrem, são lábios que se calam

bocejo:
bebo o café de um gole só,
sempre sem açúcar

Sem comentários:

Enviar um comentário