«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cor: Azul gelo

sempre que parto esqueço-me:
de todos os pedaços que foram caindo
pelos cantos da sala, caindo, cortando o ar
o barulho ensurdecedor e depois o silêncio

sempre que parto carrego:
os dias escuros dos ossos cansados,
entre pesadas horas que se marcam nos músculos

agora que parto, caminho
lentamente, cuidadosamente
é fina a linha do olhar
e os lábios não se podem dobrar

2 comentários:

  1. e há partidas em que o olhar, o invisível e as entranhas parecem vir por arrasto, como a última coisa... já que o corpo partiu primeiro, e o resto, teima em lá ficar preso, nem que seja a um breve momento ( e os lábios tremem )

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  2. todas as partidas têm inscritos os regressos nas coordenadas da viagem. quando as não têm, é porque não vale a pena regressar.
    beijos, amiga!

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