«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Manifesto XXXII

veneno

acorda-se sem vontade,
no quarto de janelas sujas,
vagarosos passos de encontro ao armário,
cabides ostentando vestes gastas,

presos ao capote que descobre
as brumas que descem ao piso,
viciados nas imagens baças
dos espelhos cansados,

ousaram em tempos construir
belas torres de branco marfim,
desejaram outrora sentar
em poltronas de veludo carmim,

fogem do sonho,
atrás, a mudez
fogem do desejo,
à frente, a reticência


Fotografia de Man Ray, The Tragic Necklace, July, 1930

1 comentário:

  1. "veneno"
    "a corda bamba"
    "equilíbrio"
    "o malabarista"
    f******** lá esta m********. o raio da sola é sempre tão escorregadia...
    um forte abraço, laura amiga!

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