«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

notas para acidentes meticulosamente encetados


I
de tanto afiar
o fio da faca
perdi o medo sob o balcão da cozinha

II
o sangue que alastrava
impregnava os móveis
deixei que o odor se alastrasse

III
uma mão no bolso
a outra perdida
o sono viria por fim

IV
restava a marca
no livro de notas
como matar a cobardia?

7 comentários:

  1. Que gostoso.
    As marcas a gente tenta diminuir, mas o tempo só as atenua. São movimentos em vão. Somos o sangue que escorre, nós escorremos, até que morremos.

    Beijo, Laura.

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  2. em nós, tantos vertedouros...

    adoro te ler!
    :*

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  3. O corte tornou-se algo banal, amolamos a faca no corpo.

    Beijo.

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  4. Me arrepiei, querida amiga.
    Para quem escreve tão estrondosamente em metáforas é fácil fazer um haicai. Ficarei feliz se fizer um onde eu possa ilustrar com céu e nuvens (bem leve ok?)

    Beijos.

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  5. Laurinha,
    Poesia sempre muito intensa,
    com escrita e marcas.
    Beijos!

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