«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 16 de julho de 2012

esventrado XVIII


esperaste que a luz viesse banhar o teu chão
mas esqueceste o caminho de regresso
quando bateste com a porta

jogaste aos dados
numa mesa sem ninguém
onde apostaste os teus dias longínquos

bebeste todo o vinho da adega
comeste toda a comida da despensa
juraste nunca mais falar

do futuro emprenhado
apenas a ilusão:
os demónios não existem

esqueceste, finges esquecer
o teu nome, a tua raça
e quando te perguntam, finges-te surdo

aguarda então que seja a terra
a cobrir as tuas narinas
e os vermes a beijarem-te na boca


 

4 comentários:

  1. não mais falar: morte súbita!!

    Beijinho, poeta de voz tão intensa!!

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  2. lindeza, os vermes por vezes parecem belos

    beijos

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  3. Laurinha,
    o prenúncio de uma morte que não chegará tão cedo.

    Beijos!

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  4. Sinto uma tonalidade diferente nestes poemas que estou a ler.
    Da morte se faz vida! Mesmo das interiores. Ai de quem não morre agora!

    Beijinho!

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