XXIII
o último fio a cortar
é aquele mais espesso, aí
no sítio onde te encontras,
grosso, cinzento
o que apresenta uma irregular textura
onde já não corre o sangue, a lágrima
solitária
o último fio a cortar
as mãos fechadas
as narinas que se dilatam
um enrugar da linha das sobrancelhas
lábios finos, dentes cerrados
um ranger continuo
o último fio a cortar:
a memória será traição no futuro
Einstürzende Neubauten - Alles
a memória é uma raiz suspensa no vácuo,
ResponderEliminarbeijo
Romper laços para esquecer, às vezes atiça mais a memória, esse ser de vontade própria.
ResponderEliminarAdorei o poema!
Beijo.
Laura, este poema é bom demais... verdade, o último laço é sempre o que nos retém, o que fica, ainda que venha o esquecimento...
ResponderEliminara memória será traição no futuro... será sempre?
beijinho!
Laurinha,
ResponderEliminaresse último fio a cortar..., talvez com uma boa faca e de uma vez só, num único suspiro, mesmo que na memória fique. Mas como seletiva é, também poderá ficar a lembrança do corte do último fio, para nosso consolo.
Beijinhos e ótima semana!
poema mais afiado que faca de dois gumes.
ResponderEliminarbeijo, poeta!
fiquei a pensar nisto...
ResponderEliminarsaberei cortá-los?
beijos!
a ideia da memória como fio que aponta ao futuro é das ideias mais poéticas que já ouvi. só mesmo desta tua lira tão certeira, amiga!
ResponderEliminare este alles, de neubauten... foi pela tua mão que lhes cheguei e, apesar da estranheza inicial, esta faixa foi "agarração" à primeira vista :)
beijo!
Assim caminhamos anestesiados até o último fio da memória que nos sucumbirá. Mas, podemos moldar a textura? delinear as sobrancelhas? emendar o último fio?
ResponderEliminarLaura, lindo poema
bjs