«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pedradas XXIII

O quarto dos brinquedos

o papel de parede, com as suas cores perdidas,
começa por se desprender do estuque

sempre imóveis
nos seus pedestais,
as bonecas com caras de porcelana,
olhos vidrados na linha do horizonte,
ali tão perto

pendem fios eléctricos do tecto abobado
nem as teias de aranha aguentam no lustre

sinistrados,
os velhos carrinhos de brinquedos,
algures esquecidos nas linhas de comboio
das maquetas pousadas no soalho,
ali tão distante

fechado a sete chaves, o velho quarto,
não vá alguém ali entrar, mas ninguém quer brincar

Robert Frank, The Road Week

2 comentários:

  1. Entre o horizonte tão próximo e o soalho distante, um admirável poema. A dureza sisuda da vida não encerra a infância para muitos num quarto de brinquedos empoeirados? Quem pode ainda ativar a infância num playground
    ensolarado?

    Um beijo.

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  2. Marcantonio, basta abrir as portadas!
    Obrigada pela sua visita, um destes dias vou roubar mais uns quadros!
    Beijos
    Laura

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