eu não sou eu, não sou
um eu
sou um emaranhado de
carne, ossos, gordura, tendões e sangue
carne, ossos, gordura, tendões e sangue
um corpo que se arrasta,
cumprindo o que as regras lhe ditam
cumprindo o que as regras lhe ditam
um número num cartão de
cidadão, outro fiscal e ainda outro de saúde
cidadão, outro fiscal e ainda outro de saúde
e tantos ainda dispersos
entre cartões, escolas, sei lá eu
entre cartões, escolas, sei lá eu
tenho um número de
telefone que uso, tenho um número da porta da minha casa
telefone que uso, tenho um número da porta da minha casa
tenho milhões de
números, que se repetem, da mesma forma que se perdem
números, que se repetem, da mesma forma que se perdem
e eu não sou eu, quando
ando no meio de outros eus
ando no meio de outros eus
sorrio, cumprimento,
falo, cumpro as horas e os dias que me estão destinados
falo, cumpro as horas e os dias que me estão destinados
eu sou apenas outro eu,
no meio de outros eus
no meio de outros eus
eu sou Eu
no meio do silêncio que
alimento, onde quem me abraça é o vento
alimento, onde quem me abraça é o vento
quem me mata a sede é a
chuva
chuva
Eu, na madrugada, perdida
na solidão de uma corrida
na solidão de uma corrida
Eu, na noite, aconchegada
pelas nuvens que me assolam o pensamento
pelas nuvens que me assolam o pensamento
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