«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 6 de janeiro de 2013

purgatorium XLII

Janeiro, ainda que debaixo de um sol tímido o ar frio gela-me o corpo. Sucumbo ao cansaço, sinto a pele estilhaçar, os ossos a quebrar e o gelo invade-me o peito.
Sento-me num banco corrido, a pouca luz apenas me deixa adivinhar o vulto que atravessa o corredor. Mantenho a cabeça baixa, numa tentativa de passar despercebida, não sei como mas acabei por aqui vir ter e agora tenho de esperar.
Um boa tarde quase imperceptível, respondo também, Boa tarde e continuo a ler as lápides de pedra que contornei até me sentar no banco corrido: Faleceu a 09 de Abril 1607, Faleceu a …, e uma série de datas, de palavras arcaicas mas fáceis de deduzir o sentido.
Não, não me dês pontapés, há muito que estamos de relações cortadas. O caminho é longo, não há como voltar para trás.
Uma segunda pessoa passa, um homem com um pesado sobretudo, de certeza que não terá frio. Silêncio. Volta a fazer o percurso inverso, continuo lá desta vez não me pode ignorar, Precisa de alguma coisa?, troco as letras no chão pelo seu rosto, Não, obrigada eu estou de saída.
Estava mesmo de saída, ainda não foi desta.

9 comentários:

  1. Laurinha,
    um purgatorium que nos deixa sem saída... apenas a Poesia salva e cria asas.

    Beijos!

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  2. adoro o ambiente denso e incitante que crias em tua lira!!

    beijo, poeta Laurinha!

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  3. Não dá para ficar indiferente a este Janeiro......

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  4. Um janeiro gélido , mas crepitante de emoção.
    Beijinho

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  5. nem o frio nos esquece, e enquanto isso o sol demora-se...

    bela a tua prosa, Laura!
    beijinhos

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  6. eu amanheci em um janeiro e desde então me floram eflúvios de incertezas,



    beijo

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  7. Uma lápide , um calafrio. É frio de inverno ?. Aqui é verão agora não pode-me ignorar, troco as letras então.

    bjs

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