I
já não sei onde me levam
estes passos perdidos
por entre a cidade que me esquece, lentamente
II
fecho os olhos
perante o meu reflexo
nas montras sujas
III
se me encontrar
se me vir
nem sei se me reconheço
IV
o ar frio invade
a pele
aloja-se na carne
V
já houve sangue
nestas veias
vida neste peito
VI
caminho
sem destino
ao meu encontro
VII
repousa na mesa
o veneno
a lâmina afiada
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Ah, realmente, a cidade é sem piedade. Embora tudo, de certa forma, seja-nos espelho, quase nunca o reflexo é apetecível.
ResponderEliminarAbraços!
Laura, tenho caminhado tanto em busca não de uma, mas de tantas desconhecidas em mim. Seu poema tem a marca dos que mergulham profundamente. E encontrá-lo hoje traz algo de destino pra mim.
ResponderEliminarBeijos,
os pedregulhos das estradas são os mesmos do corpo e da alma.
ResponderEliminarbeijoss
tão desconhecida que antevejo o espelho, utensílio de morrer é a palavra
ResponderEliminarbeijo
Gostei das tuas notas.
ResponderEliminarSoltas...?
Laura, tem uma boa semana.
Beijo.
ResponderEliminar[também dos nós do corpo
se faz sombra,
a palavra.]
um imenso abraço, L.
Leonardo B.
Passos perdidos, olhos fechados, ar frio na pele, veneno, lamina afiada...
ResponderEliminarTeus olhos, tua alma, um beijo ao alcance dos labios.
Vida!
repito aqui um texto feito justamente ao pensar no amontoado de "eus" que há dentro da gente:
ResponderEliminarBoneca russa
há silêncio
dentro
da palavra
dentro
do silêncio
da palavra
dentro
(Joelma B.)
Beijo, querida amiga poeta!!
- dizem que a existência nos mata aos poucos, mas penso o contrário.
ResponderEliminaracredito que o tempo cuida de interpretar as feridas daquele que se desconhece.
para a vida só há um caminho: seguir em frente.
Laura,
ResponderEliminarGosto muito da tua poesia, embora sinta alguma dificuldade em comentá-la. Nela sinto arrepios, trejeitos, gritos, anseios..., tudo isso em decrépito pulsar urbano. Adivinham-se vontades noutro respirar. E eu gosto sempre muito de te ler.
Beijo :)
É desconcertante o poder que tens de me emocionar.
ResponderEliminarCada palavra um arrepio, cada sílaba um grito que ecoa dentro de mim.
( Tenho pena de não conseguir escrever assim...)
Beijo com admiração
sempre afiadíssima tuda poesia
ResponderEliminarbeijo
É bom não conhecer tudo dentro de si mesmo.
ResponderEliminartrôpegos caminhamos melhor
ResponderEliminar...
Que poema!
beijo carinhoso...
Será que todos nós vamos nos reconhecer?
ResponderEliminarNem quero saber do caminho do meu próprio encontro.
Um estrondo
Bjs.