as mãos escondidas nos bolsos, inquietas
permiti-me invadir o teu espaço dissimulado
sem aviso, sem falar, sem nada esperar
assim como assim, como fomos de rompante
há uma mão que é a primeira a sair, a perder o medo
a conquistar a sua batalha
o toque da pele quente, o esfriar do pensamento na nuca
[por ti dobrei o tronco e toquei as profundezas húmidas]
quando a outra mão saiu impaciente, ávida
arqueei as costas, toquei o soalho frio do teu quarto
deixei que a pele fosse tua, como sempre o fora
entreguei-te a carne que devorarias sem pesar, sem pensar
fui o teu brinquedo
atirada vezes sem conta para os lençóis viciados da tua cama
fui a tua pedra bruta
que moldaste, fizeste e refizeste
de pernas abertas, de pernas fechadas
seios perdidos nas tuas mãos
lábios em orgia de carmim
corpo afogado pelo suor
lagos de sémen onde flores jazem
tardes sombrias estendendo-se pelo quarto, sobre nós
hoje, a tua mão assenta em cima da mesa, serena
acorrentada
e teus dedos já não se mostram impacientes enquanto o sono te invade
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Maravilhoso, Laura. Simplesmente maravilhoso. Arrebatador. E poético. Deliciosamente poético.
ResponderEliminarParabéns.
Vc me encanta...
Quanta beleza e entrega!
ResponderEliminarQuanto sentimento escondes em tuas mãos?
Fabuloso.
ResponderEliminarNão tenho mais palavras.
Laura, tem uma óptima semana.
Beijo.
pedra bruta moldada pelo labor de mãos, saliva e suor: a existência é este exercício de respiração
ResponderEliminarbeijo
Uma mistura de versos muito singular, onde as mãos se comportam como barcos a explorar... Viva a Laurinha!
ResponderEliminarbelíssimo, Laura!
ResponderEliminarsabe tão bem ler-te.
um grande beijinho!
ai Lara, tanto sofrer, esse poema me doeu um bocado e como tenho aflição da palavra "invadir" - me arrepia
ResponderEliminarbeijos!
Quente, explosivo,maravilhoso!
ResponderEliminarAdorei!!!
Tu és fogo!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Beijo
Lirismo e sensualidade de mãos dadas neste poema envolvente e forte. Como a poesia deve ser. Obrigado, Laura. Por tanta energia.
ResponderEliminara doçura de um olhar distante
ResponderEliminarmas não perdido
...
beijo carinhoso
...
vestir-nos de outras peles nos torna mais sensíveis!?
ResponderEliminarbeijo, voz que me ecoa!
Bolsos com pedras brutas cheios de entrega. Sensual e profundo D+++.
ResponderEliminarUm lindo dia para você.
bjs.