«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

balada XIX


distantes estão já os dias passados a fumar
de pernas cruzadas no chão da sala
hoje distraio o tempo contando as horas
na nicotina que mancha de vida os dedos

fecho os olhos e tudo se torna mais clarividente
os papeis esquecem-se pela casa, amontoados
perdidos entre mesas, prateleiras, soalho
a maldição de carregar nas mão tinta que não se pode limpar

cheguei aqui com o desejo de vos cumprimentar
saber das vossas histórias, partilhar os vossos sorrisos
mas deste ponto já nem encontro o caminho de regresso
e a memória languida atraiçoa o pensamento mordaz

desaparecem os corpos, as figuras
calam-se as vozes, fecham-se as portas
a realidade escancarada diante de olhos pálidos
a solidão que toca no ombro enquanto se procura um cigarro perdido

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/

2 comentários:

  1. ânsia resvala no pensamento... atiça a boca!!

    beijo, poeta querida!!

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  2. Balada de fumo, do princípio ao fim! E nuvem áspera que rói os pulmões e a garganta...

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