«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

esventrado IV: depois


anoitece na cidade
estico as asas e julgo voar
já não passo naquela rua, a nossa rua
não conheço a companhia das pedras
e na calçada os nossos cigarros
há muito que foram varridos

depois,
há sempre um depois
tal como houve um antes
e ontem, ontem é cicatriz de nós,
o esquecimento um curto intervalo

4 comentários:

  1. - interessante você falar de intervalo, de esquecimento, pois nossa vida está na pausa...

    "A verdadeira beleza não está na coisa em si. Os discursos da peças de Maeterlinck exprimiam o seu espírito através da pausa existente entre uma palavra e outra. Em todas as coisas, a beleza verdadeira está muito mais no "intervalo" que as une do que nelas em si. Cada fonema isoladamente não é tão belo, mas quando ele se liga a outros fonemas nasce, na "pausa" entre eles, uma beleza que cada um em si não possui. O mesmo acontece com as cores. Quando duas ou mais cores se combinam nasce uma beleza que não existe em cada uma delas. A música está na "pausa", a arte plástica está na “pausa”, e a vida do homem está na "pausa". Não sei quem inventou a palavra "homem" em japonês, composta de dois ideogramas - pessoa e intervalo -, mas de fato a vida do homem não está em cada indivíduo; ela está no intervalo entre um indivíduo e outro que se ligam...", Mestre Masaharu, A Verdade da Vida, Vol. 8, pág. 84...85

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  2. Laurinha,
    entre o ontem e o depois, o intervalo, quem sabe o 'nós' em sua mais tenra metáfora.

    Beijinhos!

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  3. laura:
    ' ontem é cicatriz de nós,
    o esquecimento um curto intervalo'
    beijo

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  4. laura,
    o ontem é cicatriz, mas ainda assim consome mais sangue do que o próprio coração. que ciência pode explicá.lo???

    beijo!

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