«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

esventrado III


e então eu pergunto
quantas vezes somos lembrados
escondidos nas noite frias?

e tu finges abrir os braços
assombrado pelo vento

e então eu pergunto
se ainda caibo dentro dos teus braços
se o peso do teu corpo é o mesmo
se na tua boca encontro a caverna de sempre

e tu finges abrir os olhos
para esconder a tua cegueira

e então eu pergunto
se recordas o sangue que nos corria nas veias
se ainda saboreias o sal da pele
se guardas a madrugada onde fomos só, sós

e tu, tão longe e tão distante
parece que nunca ouves

2 comentários:

  1. saiba, querida Laura, já dizia o velho Siddhartha, "o silêncio também diz".

    "e então eu pergunto
    se ainda caibo dentro dos teus braços
    se o peso do teu corpo é o mesmo
    se na tua boca encontro a caverna de sempre"

    o último verso dessa estrofe foi de fundir a veneta, muito bonito.

    ResponderEliminar
  2. Laurinha,

    Às vezes os ouvidos têm pernas e correm de nós, verdade?

    Beijinhos e ótimos dias!

    ResponderEliminar