«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 7 de junho de 2011

Bala número oito

afirmam apreciar a minha letra, a que desenho com a mão direita. observo-a sem notar o que nela vive de tão especial. esboço um sorriso, é da caneta, quanto à letra, perdi no tempo onde começou a enrolar-se na mão, no pulso, em mim, desde sempre foi assim.
tens uma letra bonita, já não ouvi.
a branca folha repousa sobre a mesa, um ligeiro tremer de mão, há que ser firme e agarrar a caneta. a folha continua virgem, a mão imóvel.
ouço o aparo a rasgar o papel, a tinta espalha-se entre as fibras do papel. silenciosa a folha deixa que a tinta a penetre. diante dos meus olhos, os primeiros riscos, a primeira letra, depois outra, mais outra, um hífen seguido de duas letras, uma palavras, outra, outra e mais outra.
os olhos não conseguem agora beber toda a folha, todas as palavras dispostas, arrumadas sigilosamente.
é minha esta letra, tem o sangue que me corre nas veias, o suor que se acumula nos dedos.
e esborrata-se com o sal das ondas

1 comentário:

  1. teus projéteis tem alvo certeiro,

    beijo

    p.s. continuo te lendo mas às vezes tenho dificuldade de por os comentários

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