«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Bala número sete

as mãos cansadas seguram o pano laranja, sinto as suas fibras prenderem-se na pele seca.
limpo o pó, o pó branco deitado sobre os moveis, as estantes, os livros, as recordações que acabaram por ir ficando, como prova de um passado, cada vez mais arredado, arrumado nas folhas que se viraram, ao sabor do vento, amareladas.

se abrir a janela, outro pó branco acabará por entrar, invadir as falhas do ar saturado que paira e cobrir os móveis, as estantes, os livros, e eu voltarei a segurar o mesmo pano, imóvel entre um segundo e outro, entre uma eternidade e um instante.

e o pó voltará para cobrir as molduras vazias da tua face


Sigur Ros - Viorar Vel Til Loftarasa

1 comentário:

  1. o cansaço torna-nos mais vulneráveis ao pó, tenha ele a espessura, a densidade ou a cor que tiver.
    sigur rós chega bem lá ao fundo, verdade, amiga?
    beijo!

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