«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pedradas XXIV

A mentira

I
em bicos de pés
risco o teu nome na areia

II
todas as frutas mirram
presas na árvore

III
com o calcanhar
piso a seiva das nuvens

IV
todas as flores nascem
para dentro da Terra

V
com a mão esquerda
limpo o vento das orelhas

VI
todo o nosso sal
foi guardado em sacos

VII
fechados



Noir Désir - Oublié (live)
Publicada por Anónimo à(s) 10:47
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2 comentários:

  1. Unknown12 de outubro de 2010 às 14:32

    Cada vez que venho revisitar teu blog me deparo com uma produção impecável, palavras cortantes, metáforas sutis, a construção do verso em perfeito equilíbrio: forma/conteúdo. Saio revigorado e feliz,


    beijo

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  2. Jorge Pimenta12 de outubro de 2010 às 15:10

    toda a mentira corre na calha contrária ao sentido de verdade. a dúvida está em avaliar os limites de um e outro. aí, sim, reside a im.possibilidade. e todos os sacos permanecerão fechados.
    um beijo!

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