«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Manifesto LXI

Tu e Eu

enche-se a banheira
com água que escalda

mergulha-se o corpo nu,
lentamente a carne aquece,
o desejo queima

não há sabão
que elimine este desejo,
as mãos percorrem a púbis

(não podemos cair nisto)

enrolam-se os corpos
calem-se as vozes

sacia-se a sede
da pele estalada
cobrem-se os ossos
com memórias longínquas

(não vamos cair aqui)

longe, bem longe
a língua de asfalto
leva o que de nós resta
bem longe

3 comentários:

  1. ei, abre a banheira, solta o ralo. deixa perder a criança mesmo sem que o cordão umbilical se tenha cortado. segura-te, vais abanar, mas conheço as mãos que se hão-de agarrar bem acima da sensação de perda.
    um beijo, amiga!

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