«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pedradas XX

Sobras

II

que se cumpram os dias, as noites,
passem os anos, águas correndo
a mesa de mármore será ocupada

limpem-se as facas,
afiem-se suas laminas enferrujadas
o bolo repousa na mesa
apodrecido pela espera
embrulhado no bolor do silêncio

com um cordel
ata-se a etiqueta
no dedo grande do pé

5 comentários:

  1. [o chão que nos traga, o ultimo suspiro dos que não respiram já!]

    um imenso abraço,

    Leonardo B.

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  2. num cenários de etiquetas, pés gelados e facas enferrujadas, não creio que os acenos apócrifos possam devolver a massa à vida... nem mesmo com os dois olhos abertos. as sobras sobram; resta o essencial.
    um abraço!

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  3. ou então que nos engula, já
    retribuo o abraço, Leonardo B.

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  4. Jorge, na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se tranforma.
    Beijo

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  5. Sempre por aqui, lendo em silêncio. Mas essas suas pedradas no costado da vida... Nossa! Impressionante o close da estrofe final, a açular a memória que quer ignorar certas imagens terrivelmente simbólicas. Impressionante!

    Beijo, Laura.

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