«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Manifesto XLIII

Abraço

provavelmente,
talvez um dia remoto,
os cafés fecharão,
encerrando as suas portas de vidro aos dias
que escorrem vagarosos,

depois virá o cansaço,
arrastando os pés pela calçada,
as mãos trémulas segurando sujas colheres,
e talvez nesse dia,
quando as asas se partirem e os pires se esquecerem,
a gente volte a fumar

Tom Waits & Iggy Pop - Coffee and Cigarettes

4 comentários:

  1. se pudesse reescrever a língua, destruiria, de pronto, todo e qualquer advérbio de dúvida...
    sobre as palavras, deixo-te aqui uma reflexão que surgiu a propósito de um post do marcantónio. ups... não a tenho copiada. quando ele a aceitar (se aceitar), venho cá deixá-la, certo?
    um abraço (com café mas sem tabaco :))

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  2. Fico à espera!
    Afinal és mesmo o amigo dos olhos grandes, conseguiste ver, longe!
    Beijo e até já

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  3. ...e pensar que joguei este filme no lixo...(foi presente de uma outra pessoa para ELE), tenho que comprar novamente! rs
    beijo!

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  4. aqui está:

    "a memória nas palavras…

    esta subserviência humana transcende.
    entregamo-nos às palavras como se elas fossem a estrela de david no trilho de uma redenção obsessivamente almejada. algum tempo depois, percebemos de que delas apenas sobra a cadência das estrelas tombando em silvos silenciosos, ao mesmo tempo que anunciam falsos clarões de luz. as palavras não têm memória e o seu único referente as explosões de luz nos olhos de quem as procura. o projecto poético, porque fundado nestas tatuagens apócrifas, será, para sempre, adiado. sabes, ainda persigo a verdade da escrita de sangue, onde as palavras sejam apenas os sorrisos, os moveres de olhos, as contracções musculares, os espasmos de alma. desisto! não quero caminhar para onde inevitavelmente me esperam (citando saramago).
    p.s. esta efabulação é apenas um sinal de fumo sobre a planície deserta. descobri que de lá de cima o mundo pode ser percepcionado, tocado, cheirado, escutado e saboreado… não necessariamente nomeado.
    invocando negrereiros: morte ao dantas, pim! morte ao verbo, pum!"

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